Eu sou uma multidão. Sou o que me transversaliza, os muitos que me compõem. Em mim tem um pouco de Bandeira, Guimarães Rosa, Cortázar, Clarice Lispector, Han Kang, Carolina Maria de Jesus. Fazem parte do meu universo as histórias que me atravessam em cada atendimento pois a clínica não é neutra. Sou a minha ancestralidade e a minha descendência. O desejar, parir e cuidar que foi me construindo mãe dos meus filhos. Sou feita de bons encontros, grandes medos e pequenas coragens. De relações entre alguns corpos que potencializam e outros não. Do meu cachorro que um dia eu tive e que me despertou a minha própria animalidade. De uma íntima desordem tamponada que quer escapar. Reverberam em mim o fracasso, o mal-estar e a reinvenção da vida. Seguimos em desconstrução.